segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Presságio de Morte

Em homenagem a dois amigos meus.


            Bob não conseguia se concentrar, seu notório mau humor  estava pior hoje. Queria muito encerrar a reunião, mas ainda precisava ouvir alguns relatórios. Notou a ausência de um dos seus funcionários, mas não comentou nada...

            José estava parada em frente ao prédio que trabalha há  mais de uma hora, havia se atrasado para reunião semanal de propósito. O dia estava terrivelmente quente, e José estava encharcado de suor quando finalmente decidiu entrar no prédio.
           
O verdadeiro nome de Bob é Erasmo, mas ele acreditava que ter um nome americanizado faria dele alguém mais importante do que ele jamais foi. Enquanto seus colaboradores o tomavam o habitual café pós-reunião, o humor de Bob piorava. Ele começou a transpirar ,e ,quando Fernando caminhou em sua direção, um frio prespassou-lhe a espinha. Esse chato agora, não, pensou. E para seu alívio, faltou luz.
  
            José resolveu subir os quinze andares de escada, uma maneira que encontrou de postergar ainda mais o que planejava fazer. Quando chegou no terceiro andar, faltou luz. Ele não foi capaz de decidir se sentia alivio ou pesar por não estar no elevador. No décimo andar suas pernas começaram a tremer e a respiração se tornou completamente ofegante, mas agora estava mais que decidido a levar seu missão a cabo, já que no escuro as chances de que fosse identificado seriam menores.

            Bob saiu em disparada em direção ao banheiro. Quando os olhos de todos se acostumaram a escuridão do escritório, Erasmo havia desaparecido num passe de mágica. Entrou no banheiro masculino torcendo para que última cabine estivesse vaga. Rapidamente sentou-se no vaso e deixou que a natureza fizesse o serviço

            Completamente suado e ofegante Zé abriu a porta da sala de reunião, sem que ninguém percebesse. Com a arma na mão, percorreu toda a sala com o olhar e não encontrou Erasmo. De repente todo seu corpo tremia, seu estômago se revirava, parecia que ia vomitar. Correu para o banheiro e no caminho esbarrou em Fernando que caiu no chão. O desespero era tanto que, sem perceber, largou a pistola em cima da pia.

            Bob começava a sentir uma sensação de alívio, quando percebeu uma outra presença no banheiro, uma presença barulhenta, feroz e ofegante.

            A diarreia era tão forte que José nem percebeu que o banheiro estava ocupado.

            O banheiro da cabine ao lado cessou, e, por não querer dar de cara com algum funcionário no banheiro, Bob vestiu-se rapidamente e saiu para lavar a mão.

            Ao sair para lavar a mão, Zé identificou uma sombra em pé enxugando as mãos. Não teve tempo de se envergonhar pelos sons emitidos, porque o logo que o homem virou para encara-lo a luz voltou.
            A iluminação revelou Bob para José, Zé para Erasmo, e uma arma apoiada na pia. Os dois se entre olharam e depois para o revólver.
            No escritório os colaboradores comemoravam o retorno da luz aos sons dos disparos. 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Cinco para meia-noite

O relógio marca cinco para meia-noite, é sem dúvidas o pior fim de dia que eu já tive em anos, quando tudo o que você tem em mente, todas as expectativas vão por água abaixo em questão de minutos e você sente que o mundo não é um lugar legal.

O relógio marca agora quatro para meia-noite, e copo de whisky parece um passaporte para o paraíso, a bebida desse cortando minha garganta, é uma sensação de dor e prazer, ambos de mãos dadas caminhando pela estrada vermelha com um único objetivo, não me deixar sóbrio, fazer-me esquecer dos problemas para que eu tenha uma sensação falsa de conforto.

O relógio marca três para meia-noite e a bebida não funciona da maneira que eu  esperava, uma lágrima brota no canto de um dos meus olhos e resolve correr pelo meu rosto, a sensação de dor da bebida funcionou e novas lágrimas brotam.

O relógio marca dois para meia noite, a dor e as lágrimas parecem ser amigos bem íntimos, eles ficam conversando durante esse minuto enquanto meu relógio faz tic tac, eu deixo o copo de lado e resolvo enxugar as lágrimas, esse não é o caminho.

O relógio marca um para meia noite agora, com uma sensação de derrota fico encarando o último minuto desse dia, olhando calmamente o tic tac e torcendo para que esse dia termine logo.

Então eu me  lembro de um sorriso faltando vinte segundos para meia-noite, um sorriso mágico e espontâneo, um sorriso que tive o prazer de ver mais de uma vez nesse dia, um sorriso que foi capaz  de eu querer durante esses  vinte segundos que meu dia não terminasse, e durante esse pequeno espaço de tempo eu tive a sensação de estar sorrindo, e quando finalmente deu meia-noite, sem que eu percebesse já tinha dado meia-noite cinco, sem dúvidas, foi o melhor fim de dia que já tive em anos, obrigado pelo sorriso.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Meu signo é jumento!

               -Deixa eu falar uma coisa pra você, não existe essa porra de destino! Isso é uma coisa que pessoas imbecis usam como desculpa, para não se responsabilizarem pelas cagadas que fizeram na vida.
                Ela olhou para mim com olhos marejados. Isso partiu meu coração, mas era minha responsabilidade dar um choque de realidade nela. - Perdão acabei me exaltando. - É a primeira vez, em anos, que tenho uma conversa com minha filha.
                Logo que me separei da minha mulher, Barbara me visitava a cada 15 dias. Depois chegou a adolescência e ela decidiu que era mais importante está com os amigos. Não a culpo. Jovens precisam estar com outros jovens.  Mas pela influência da mãe, acabei sendo culpado pelo afastamento.
                -O que você vai fazer?
                - Não sei...
                Minha ex-mulher enfiou um monte de besteiras na cabeça da garota, destino por exemplo, astrologia, signos...  A menina aprendeu que tudo na vida depende da hora e dia em que nasceu. E toda vez que faz uma péssima escolha, culpa o destino.
                - Eu amo o Carlos... - ela me  diz, num sussurro quase imperceptível.
                Quando conheci o noivo da minha filha... É, eu disse noivo, não o conheci como namorado, quando ela resolveu  me apresentar o Carlos, já eram noivos. Depois, só o vi de novo no casamento... Bem, quando o conheci disse para ela observá-lo  com atenção e não se precipitar. - Você é um  imbecil, minha mãe tem razão. - Foi a resposta que recebi por dar um conselho.
                -E você acha que vale a pena tentar salvar o casamento?
                -Não sei... Tem o Rafa, não quero que ele cresça sem pai.
Respiro fundo. Minha vontade é de dizer "Eu te avisei, menina". Mas não posso. Ela me procurou, porque sabe que posso clarear seu caminho de uma maneira que a mãe dela não pode. Não sou expert em traições, mas se eu encontrasse minha mulher na cama com outro, estaria tudo acabado. - E crescer num ambiente de constante desconfiança, vai ser melhor pro garoto? - Pergunto. Ela arregala os olhos, recosta no meu ombro e chora como uma criança.
                - As vezes precisamos abrir mão do que amamos. Não é o destino ou coisa parecida. É a escolha de qual o tipo de vida queremos levar. Certos relacionamentos nos trazem uma sobrecarga emocional que se torna um malefício... - Ainda estou falando, quando ela me dá um beijo no rosto e diz - Obrigada, papai! - e sai  porta a fora.

                Esse beijo foi um prêmio que não recebia há anos.   

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Devaneios de uma noite de verão

Esse maldito calor que não me deixa dormir, e com pesadelos ajudando, creio que não irei dormir essa noite. Como eu detesto dias quentes, saio do meu quarto sem que Lisa perceba, o piso coberto por carpete impede que ela ouça meus passos, hoje percebo que não foi uma boa ideia coloca-lo, só deixou o cômodo mais quente, é melhor eu pegar um ar na varanda.

Ao abrir a porta tenho uma surpresa bem desagradável, nenhum vento, todas as árvores estão estáticas, observo bem o bairro e vejo que o velho Matias teve a mesma ideia que eu, só que ele teve mais sorte, meus cigarros acabaram e ele guardou o que lhe dei hoje a tarde, se a filha dele souber que fui eu ela me mata.

Dou uma caminhada pelo quintal vestido de pijamas, e tenho uma ideia mesquinha, entro no carro, tranco a porta e ligo o ar condicionado, se o paraíso existe, lá deve ter um. Em pouco tempo sob o efeito da brisa, todos os meus problemas desaparecem, esqueço de tudo e de todos, a voz de Lisa reclamando da gastança de água, reclamando da televisão ligada, reclamando e reclamando, eu simplesmente esqueço e entro em um mundo completamente cor de rosa, até esqueço ou finjo esquecer que meu chefe me quer no escritório amanhã bem cedo, só consigo me lembrar de “Hakunna Matata” “os seus problemas, você deve esquecer”  isso sim é filosofia de vida...então, sem mais nem menos o sol começa a bater no meu rosto, acabei pegando no sono dentro do carro, e minha garganta doí mais que um chute no saco, definitivamente não foi uma boa ideia. Ao sair do carro vejo algo que é pior que um chute saco, minha esposa em pé ali do lado,  com os braços cruzados e me olhando com cara feia, sim eu vacilei, melhor ir logo pedindo desculpas, não foi algo legal de ser fazer, deixei ela sozinha com aquele ventilador cuspindo fogo enquanto fiquei a noite toda no arzinho.

-          - Perdão querida, não tinha intenção de ficar a noite toda, acabei pegando no sono, foi muito mesquinho da minha parte eu sei, perdão. Disse eu, a humildade em forma de homem.
-          
Certo gênio...agora que acabou com o pouco combustível que tinha, como você vai chegar no escritório bem cedo hoje?

Eu sabia que seria pior que um chute no saco, só não sabia o quão pior seria, mal deu 6:00hrs e sol já está matando, eu já falei como detesto dias quentes?

sábado, 1 de novembro de 2014

Essa coisa que não me larga

Então, estreando quando tudo parece estar errado, depois de ter vindo de um mundo onde tudo parecia ser o ideal, há poucas horas atrás. 

Quando você espera o acontecimento chegar e quando ele chega, BOOM, ele se vai e não vai sozinho, não claro que não. 

Ele leva de você toda a sua lucidez, todos os seus pensamentos bons, tudo o que você achava que seria o perfeito:

- Quero ir embora!
- Hã? Como assim? Já?
- Já, é que eu decidi ir embora.

Ahhh meu velho carma voltando, só pode ser carma. Carma, cama, que combinação mais perfeita, não na vida de qualquer um, mas na minha sim, e como sim.

E o acontecimento se foi, e a lucidez foi atrás, pegando uma carona. E ai?? E agora?? Onde estão todos aqueles planos, sonhos...? É assim que você quer construir algo?? 

Acontece que o porto seguro está lá, há algum tempo já. Mas precisa-se cuidar dele, das ferrugens que insistem em aparecer, da lâmpada do farol que insiste em queimar etc. Preci-sa cuidar muito, muito mesmo. 

Eu quero fechar um acordo para comigo de cuidar do porto, quero mesmo, sempre quis, mas por que o vento sempre insiste em tentar destruir o pobre porto?? Esse porto seguro vai estar lá, sempre te esperando quando você está perdido, está sempre disposto a te ajudar a achar o seu caminho, e tudo o mais que só um marujo desesperado ao mar pode saber. Mas ai vem o vento, ahhh o vento. Com sua silhueta invisível, que te arrasta, como serei arrasta pescador, com seus assobios ao pé do ouvido, te leva igual folha de amendoeira.

E depois, você se pergunta: Se eu me agarrase mais forte um pouco no farol do meu porto, esse vento não iria me levar. Ou iria??