sexta-feira, 27 de março de 2015

Um dia comum

Hoje o dia amanheceu de forma estranha. Ao abrir a janela do meu quarto, reparei a existência alguns planetas, era como se tivessem tirado a terra de nossa galáxia, e não parou por aí, o mundo estava diferente, as pessoas estavam mais agressivas que o normal, e quando digo isso não estou exagerando, era como se algo realmente as incomoda-se, mas o pior de tudo não era isso, aparentemente apenas eu estava notando aqueles planetas orbitando a terra, só eu estava vendo essa loucura, só eu estava vendo algo realmente estranho com esse mundo, nem mesmo o exagero das pessoas gerava desconforto nas outras, apenas em mim.

Mesmo acordando e dando de cara com planetas, o que é muito, mas muito estranho, eu não conseguia sentir pânico, eu estava igual ao resto das pessoas, com um porém, eu parecia estar curioso com aquilo, enquanto o restante não. Na minha caminhada acabei entrando em um bar e havia um homem ameaçando o barman por ter trago a sua cerveja um pouco menos gelada do que ele havia pedido, tentei interferir e tudo que consegui foi um olho roxo e um desmaio. Acordei cerca de uma hora depois, segundo um dos bêbados, que não são nada confiáveis quando o assunto é noção do tempo. Outro assunto curioso...o tempo, era muito estranho, o relógio da parede estava parado, assim como o meu e como o relógio de todos naquele bar, todos parados em 12:00, quando tempo fiquei apagado? era o começo, ou o meio do dia?

Saí daquele bar tão confuso quanto, nas ruas notei uma comoção das pessoas pela morte de um traficante que acabara de ser pai, e vi negligenciarem um socorro para uma senhora que passava mal na calçada, cheguei até ela para ajudar, quando me ajoelhei e a recolhi em meus braços já era tarde demais, então ao olhar em volta havia um circulo de pessoas, parecendo preocupados , começaram a cochichar, era difícil, quase impossível entender uma palavra que era dita ali, até que escutei claramente um “Foi ele que a matou” eu realmente não sabia o que dizer, todos diziam a mesma coisa. No meio daquela confusão toda surgiu um policial, eu dei graças a Deus, mas era cedo para agradecer, ele me bateu, e sinceramente não me recordo dele ter lido os meus direitos, em seguida me algemou, e enquanto todos a minha volta me julgavam sem motivo, minha voz não tinha vez, ela era impossível contra a massa, contra o povo, mas afinal...o que eu tinha feito de errado mesmo? Eu só fui eu mesmo, tentei ajudar pessoas.

Ao ser carregado pelo policial, sem motivo nenhum, comecei a observar as pessoas nas ruas, elas estavam aplaudindo terroristas, estavam brigando por cores de bandeiras, estavam matando quem tivesse uma opinião contraria, tudo isso sob um céu infestado de novos planetas, será que esse mundo se tornou um lugar tão insano que até a mais absurda das coisas se tornou normal?

domingo, 22 de março de 2015

Desculpas

Por favor, desculpem-me se esse texto for ofensivo, ou se você achar que não foi produtivo e perdeu seu tempo ao lê-lo já de antemão.
Devo confessar que sou um pouco fanática pela Língua Portuguesa, é uma das minhas melhores matérias.
Um dos temas que prefiro é semântica... Mas, enfim, vamos ao ponto.
"Desculpa" é um termo que, no nosso português, é utilizado em vários momentos e formas diferentes. Às vezes pode ser dito apenas por causa de um esbarrão no ônibus, ou porque você derrubou o material de alguém, sem querer.
Mas há também aquelas situações um pouco mais intensas, como uma mentira que foi descoberta, e o caluniador tem de "pedir desculpas", ou uma traição, um boato ofensivo, até mesmo uma ação prejudicial feita sem pensar.
Há pouco tempo a utilização da tal palavra em todos esses momentos não me incomodava, afinal a língua portuguesa aqui no Brasil é um tanto quanto folgada aos seus falantes; costumamos utilizar a mesma palavra com vários semânticas, sentidos diferentes. Contudo, no ano retrasado, minha atual professora de Literatura, naquele ano de redação, disse algo que me deixou estatelada. Ela contou que, se alguém pedisse 'desculpa' pra ela, ela responderia 'Não, não desculpo.' e nós, ingênuos alunos de 9º ano/8ª série, perguntamos: 'Por quê, professora?' e ela respondeu: 'Porque a culpa ainda é a sua!'
Parece besta, né? Parece algo óbvio, trivial, mas pare para pensar comigo:
Qual o significado de 'desculpa'? No dicionário diz: "Razão ou motivo para atenuar ou eximir da culpa; justificativa."
-Des- é um prefixo de negação. Ex: 'Desligado', 'Desuso', etc. Então, claramente explicando, quando você usa essa palavra, está pedindo para tirarem a culpa de você. Sei que estou sendo redundante, mas continue seguindo meu raciocínio.
Nas primeiras situações que eu citei acima nada mudou, mas e as mais graves? Será que dá para simplesmente retirar a culpa de alguém que te traiu? Que te apunhalou pelas costas? "Desculpas" realmente resolvem?
Será que tudo realmente tem uma justifica, algo que isenta a razão pela qual alguém fez algo?
Eu acho que não.
'Matei porque ele me roubou.' Ambos cometeram um crime... Mas o assassino iria para cadeia mesmo assim, certo? (Vamos ignorar a justiça brasileira nesse conceito, ok? É só um exemplo.)
É por isso que, agora, eu prefiro o "perdoar", pois é um verbo muito mais significativo, completo; no entanto, difícil. É muito mais vantajoso para você, que cometeu algo, fingir que nada aconteceu, passar uma borracha e viver sua vida. Mentiu? Vamos esquecer e bola pra frente. Traiu? Poxa, desculpa, vamos "deixar pra lá".
É tão fácil assim? Apagou, deletou, não há resquícios do que aconteceu? Será que a outra pessoa realmente tirou da memória o que você fez?
Você pode ter dado uma desculpa, mas será que ela te perdoou?
Porque perdoar é diferente. Mesmo sabendo que você cometeu algo a pessoa não esquece, e a culpa ainda é sua, mas ela te dá uma segunda chance mesmo assim. Não tem essa de justificativa, não tem 'desculpas', não tem 'deixar passar', não tem isenção.
Perdoar é realmente árduo quando você é o agente do verbo, porque rancor é tão mais fácil de se sentir, tão mais fácil de se lembrar. E, para quem cometeu um ato, desculpas são o melhor caminho, pois viver 'culpado' é angustiante, e consciência pesada é extremamente fatigante.
Não estou aqui para mudar nada, apenas para expôr uma opinião. Sei que perdoar realmente é pra poucos.
O nosso mundo ainda vive de desculpas.

domingo, 15 de março de 2015

O Fluxo da Fumaça


Algumas notícias, realmente, nos tiram o chão. Hoje, pela manhã, recebi uma dessas. Estava enfrentando o engarrafamento, como sempre, indo para o trabalho, quando o telefone tocou. Era de um número desconhecido e por isso quase não atendi…
   
- Alô?
-Alô, Rodrigo? - Não bastasse ser um número desconhecido, a pessoa sabia meu nome.
-Sim…
-É a Raquel - O nome não me ajudou muito, tentei associar o nome a algum rosto conhecido, foi como jogar aquele jogo de tabuleiro dos anos 90. - Tô ligando pra te dar uma má notícia. - Nesse instante eu quis me levantar, mas perderia rapidamente meu lugar num ônibus tão lotado. Pior, eu ainda não sabia quem era a Raquel nem o que ela poderia me dizer que seria uma coisa ruim de se ouvir.
-Ah…bem…fala…
-Lembra da Luísa? - Raquel… Luísa… Bingo! Conhecidas da época da escola, que fazia mais de 5 anos desde a última vez que as vi.
-Lembro… Lembro, sim. O que tem?
-Faleceu ontem de manhã. O enterro é hoje as três da tarde. 
- Nossa! - Por um momento foi tudo que eu pude falar e se seguiu um longo silêncio até que eu dissesse outra coisa. -Eu tô num ônibus super lotado - Tentei explicar minha reação imbecil - será que você poderia me mandar por mensagem o endereço de onde vai ser o sepultamento? -Uma maneira de fugir daquele telefonema desconfortável.
-Sem problemas… Bem…se poder, avisar ao resto do pessoal… Tchau!
Não tive tempo de me despedir. Também não avisei ao “resto do pessoal”, simplesmente por não saber quem poderiam ser. Tanto a Raquel quanto a Luísa eram conhecidas de noitada, vez por outra nos esbarrávamos em alguma festa, não éramos grandes amigos.
Atendi ao funeral, mas fiquei de longe. E a distância mesmo, acenei levemente com a cabeça para a Raquel, que, numa mistura de sentimentos, pareceu surpresa e feliz por eu ter comparecido. Feliz, é claro, dentro do que as circunstâncias permitiam. Confesso que não me lembro muito bem da Luísa, não sou dessas pessoas que possuem uma memória fotográfica, e o tempo afastado, também, contribuiu bastante com isso. Mesmo assim, preferi manter na memória o pouco que lembrava e não me aproximei do caixão.

O que de fato tirou meu sono e o meu chão, foi lembrar que ela era mais nova que eu dois ou três anos… É estranho pensar que algum conhecido seu poderia deixar essa vida antes dos vinte e cinco… Já passam das 3 da manhã, em breve terei que levantar para trabalhar, mas não deixo de pensar nisso… E em quantos dos que estavam comigo naquele ônibus lotado ou, até mesmo, no engarrafamento, são capazes  de reconhecer a própria mortalidade… O que assusta ainda mais é essa vida que segue…ou que seguimos…

domingo, 8 de março de 2015

Natureza Morta

Essa história aconteceu a 12 anos atrás...
O pânico tomou conta de todo o meu ser naquele dia, ao correr pelas ruas desesperado, tinha a esperança desse sentimento diminuir, mas sou frustrado logo em seguida, começo a gritar, mas os meus gritos são abafados pelo som da chuva que cai sem trégua,  me encosto em muro e começo a chorar, me pergunto algumas coisas, me questiono, olho para os céus e questiono mais.
- Eu tenho mesmo que morrer?

Fiquei em pé na chuva por meia hora esperando a minha resposta, mas ela não veio. Quando a chuva passou, prossegui com minha caminhada e decidi cortar caminho por um velho parque que a prefeitura deixou de cuidar faz muito tempo, está completamente destruído, observei um balanço e decidi me sentar ali, mesmo molhado, me sentei e fiquei observando  o que um dia foi um paraíso cheio de vida, as árvores nada mais são do que pedaços de pau retorcidos e sem espirito, o capim tomou o lugar da grama, já os brinquedos estão dominados por ferrugem e tinta descascada. A natureza aqui está completamente morta, assim como a minha. Decidi me levantar e continuar minha caminhada, passei por mais alguns brinquedos até ouvir um barulho estranho que estava saindo de trás de uma árvore, era um filhote de cachorro, um vira-lata, nas cores brancas e caramelo, era incrível que no meio de todo aquele lixo, estivesse algo tão dócil e inocente como um cachorro, ao olhar nos seus olhos, todo o pânico que estava tomando conta de mim passou, todo aquele nervosismo e ansiedade haviam sumido, eu vi que ele precisava de mim, precisava que alguém  cuidasse dele, e eu precisava dele para cuidar de mim. Traze-lo para casa foi a decisão que salvou minha vida, ele me ajudou a curar o meu câncer, de repente eu não estava  mais sozinho, de repente eu tinha alguém, eu tinha um amigo, um amigo que não está mais comigo, e que salvou a natureza morta que existia em mim, enchendo ela de vida.