sábado, 27 de junho de 2015

Consultório



A sala era toda branca, tão branca que doía. Paredes brancas, a mesa de centro era branca, as poltronas também, até mesmo o piso era branco, um branco impecável. Bati os pés num pano de chão antes de entrar, tava chovendo e meus tênis estavam enlameados. Sentei na poltrona de frente para a porta, olhei para o chão a procura de alguma marca dos meus calçados, mas era como se ninguém tivesse passado por ali. Estranhei...
Examinando a sala avistei uma criatura que não tinha percebido ainda, sentada na poltrona a minha direita estava uma senhora. Ela usava um xale amarronzado, blusa amarela e uma saia cinza longa, seus cabelos formavam um coque e tinham a mesma tonalidade de sua saia, um óculos com armação preta estava praticamente pendurada na ponta do seu nariz. Ela me encarava com seus olhos profundos e, assim que viu percebeu que eu a olhava de volta, pigarreou. Fingi não notar.
Saquei do bolso meu celular, para descobrir que estava sem sinal...sem internet e com apenas10% de bateria. Guardei. A idosa continuava me encarando, parecia nem piscar. Ela tornou a pigarrear, e antes que ela começasse a falar, peguei o celular e abri um jogo qualquer. Agora só precisava torcer para a bateria durar tempo suficiente até me chamarem.
Com menos de 5 minutos meu celular emitiu um alerta avisando que a bateria tinha acabado e desligou. Levantei os olhos, e a velha continuava me encarando, dessa vez com um sorriso que tinha uma mistura de felicidade e perversidade. Ela conhecia aquele som e sabia que meu celular estava sem bateria.
Sem saber o que fazer ou dizer para ela, que me olhava fixamente, levantei as minhas sobrancelhas e balancei levemente a cabeça. Foi o suficiente.
-Ainda tá chovendo? – Ela me perguntou. Enquanto respondia que sim, procurei por toda a sala algum relógio, mas não tinha nenhum. –É a primeira vez que você vem aqui?
-É sim...
-Imaginei, nunca tinha te visto antes.
-Será que demora muito pra chamar...?
Ela sorriu, aquele mesmo sorriso de quando percebeu que meu celular tinha acabado a bateria. –Ah, demora! Eu mesma estou aqui há quase duas horas. – Ela não usava relógio e na sala não havia nenhum, como ela podia ter tanta certeza do tempo que ela estava esperando?
-Vai que temos um pouco de sor...
-Ah, não. Aqui demora mesmo. – Me interrompeu e deu uma gargalhada. Levantei, estava decidido a ir embora. – Está chovendo forte – ela disse, e suas palavras vieram acompanhada de uma forte trovoada. Afundei na cadeira. Desistir de olhar para ela e continuar qualquer assunto.
Não sei quanto tempo passou, nem quantas vezes ela pigarreou até que ela voltasse a falar – Ajuda a passar o tempo se a gente conversar. – Encarei-a. Que tipo de bruxa era essa mulher? Que lugar medonho era esse? Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, alguém me chamou
-Seu Marcos? É a sua vez.
-Enquanto a mim? Eu cheguei bem antes...
-A senhora é encaixe, dona Esmeralda, vai ter que aguardar mais um pouco.

-Tudo bem... daqui a pouco aparece outra pessoa para eu bater um papo.

domingo, 14 de junho de 2015

Um dia frio


Não, eu não irei começar esse texto citando Djavan. Desistam! Prosseguindo...


Um dia frio é um sopro na alma dos apaixonados e, ao mesmo tempo, um arrepio na alma dos solteiros. É naquele momento que um vento gélido corta a pele sensível de seu rosto que bate aquela sensação de que você, solteiro, está mais sozinho do que nunca. É, amigos e amigas... e quando isso acontece, nem aquele famoso blablabla de “solteiro sim, sozinho nunca” será capaz de conter a bad trip down the memory lane pela qual você passará. Lamento informar a vocês, mas o ser humano contemporâneo está com defeito. Essa mania de querer ter tudo sob controle em nossa vida tem nos tornado cada vez mais apáticos. Queremos amar alguém, mas enxergamos isso como um sinal de fraqueza. Queremos nos envolver com esse mesmo alguém, mas temos medo de nos machucar. Nos sentimos tristes e/ou irritados diante de algum acontecimento, mas preferimos escondê-los a sete chaves dentro de nós para não termos que lidar com isso até o ponto em que se torna insuportável. Nos sentimos sozinhos, mas fingimos que está tudo bem para todos e depois reclamamos que as pessoas não se importam genuinamente conosco. Gostaria de terminar esse texto com um pedido. Vá lá e faça. Converse, desabafe e pare de se tolir sendo pessimista. Não transforme tudo na sua vida em um martírio. Afinal de contas, como diria uma música que gosto muito: “If you never try, you’ll never know”. Então, respire fundo, tome a coragem necessária e vá. Viva

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Ponto de vista

Todo mundo tem um vizinho que possui um péssimo gosto musical. Mas aposto que o meu é o pior de todos. O cara não entende nada de música, só toca porcaria, e o mais incrível é que a família toda possuí o mesmo péssimo gosto. Família essa que não é pequena. Sinto pena das crianças, de verdade, tão pequenos, tendo que crescer ouvindo todo aquele lixo.

Sabe aquela batida horrível que te dá enjoo? Chega até embrulhar o estomago em algumas partes, não existe harmonia nos instrumentos, uma hora tá muito alto, outra hora tá muito baixo, é uma verdadeira confusão de um monte de coisa tocando ao mesmo tempo. Isso me dá uma raiva que você nem imagina, é simplesmente desesperador.

Como não bastasse o som horroroso dos instrumentos, ainda tem uma questão importantíssima, a letra, o diabo da letra, as músicas não possuem letra, é um amontoado de coisas emboladas, parecem um monte de palavrão que eu nunca ouvi falar, palavras estranhas que não fazem o menor sentido, não sei como alguém consegue escutar um absurdo daqueles, e o pior, como alguém coloca alto pra todo mundo escutar. O tempo vai passando e o gosto musical das pessoas só tende a piorar.

Mas eu vou me vingar dele, consegui um equipamento de som da pesada, vou colocar música de verdade pra esse cara escutar a partir de agora,  chega desse tal de Metallica, Bon Jovi e todas essa porcarias que sairam do inferno. Mr Catra é o poder, a Valesca é a rainha e isso sim é musica de verdade.