quarta-feira, 27 de maio de 2015

A Terceira Premonição

O coruja ganhou mais um reforço, com uma missão quase impossível de traduzir em belas imagens aquilo que não conseguimos dizer com nossas palavras. 

 Eis o nosso braço esquerdo, sim esquerdo, que a essa hora deve estar perdida em alguma Starbucks.

Olivia Bruni: publicitária-to-be, 24 anos e, infelizmente, ainda contando. Uma pessoa aleatória, falante, cheia de contradições e opiniões - e definitivamente hiperativa. Deixa uma xícara de café na minha frente e você verá o estrago.

sábado, 23 de maio de 2015

Paranóia

Baseado na minha própria irracionalidade à noite.

"Eu não sou paranoica!"
"Ah, Carla, por favor, você não anda sozinha, tem medo da própria sombra." 
"Por que eu teria medo da minha sombra?!"
"É uma expressão, Carla, uma expressão."
"Eu não sou paranoica, é só um medo básico, instinto de sobrevivência, Pedro."
"Tá bom, quatro olhos, tá bom."
Uma menina de cabelos loiro escuro até o ombro, um semblante indiferente e um modo de andar engraçado apertava o passo na calçada para conseguir chegar ao trabalho o mais rápido possível. Não era mais dia útil, ela não deveria estar indo, porém não era possível esperar até segunda feira para ter seu celular - que ela esquecera estupidamente em cima da mesa do seu escritório mais cedo naquele dia - de volta. Sua vida dependia daquele mísero aparelho que custara mais do que o notebook que ela tem em casa.
Mas, às 20h da noite num sábado, quando a temperatura não estava tão agradável — 20º? Do jeito que a moça agarrava-se ao seu casaco, estava mais para -5º. — e as ruas estavam mais quietas que de costume, talvez seria melhor dar meia volta e esperar, mesmo que o escritório fosse só três ruas à frente. Talvez o celular não fosse tão importante assim.
Ah, tarde demais agora, estava mais próxima do escritório do que de sua confortável - e quente - casa. 
Melhor terminar a missão logo de uma vez. Mesmo que ela tenha de esfregar as mãos para manter-se aquecida e o ar que saía da sua boca esteja visível. Mesmo que houvesse a possibilidade dela ser brutalmente morta.
...Mórbido.
Não havia muito barulho pela rua, ela não morava em uma cidade movimentada, e os passos que dava com sua bota estavam ecoando pela noite e um firme Tack Plock, deixando a moça um pouco mais alarmada do que de costume.
Tack Plock
Tack Plock
Tack Plack
O som muda, pois juntou-se a outro. O som de outro sapato pisando no chão frio, o som de outro salto colidindo com a calçada. Alguém andando a poucos passos atrás dela. E andando em uma rapidez um pouco maior que a dela. Ela aperta o passo.
Seu escritório, pensa, está a apenas poucos metros, não há motivo para ter medo. Exceto se ele for me assaltar e decidir que é melhor não haver nenhuma testemunha.
Tack Plack
Tock Plack
Tack Plock.
Ela está de frente para a porta, tudo que precisa fazer é girar a chave. Suas mãos suam, seu bolso parece mais fundo do que de costume. Não consegue achar o chaveiro que tinha certeza de ter pego da mesa da sala.
Tock Plack.
Tock Plack.
Ela paralisa, segundos depois de perceber que não trouxera a chave. O som ecoa do seu lado.
Ela prende a respiração. Uma sombra sobre si parece estar completamente em controle da situação, seja lá de quem for.
"Carla?" Uma voz familiar fala mais alto do que necessário. "Eu te chamei umas setes vezes enquanto corria atrás de você, você deixou a chave do escritório em cima do rack da sala. Tive que vir atrás de você nesse frio absurdo. Você já é cega com esse óculos aí, tá ficando surda também?"
Piscando, ela vira para dar de cara com o irmão mais velho, Pedro, que segurava um chaveiro desgasto em frente do rosto.
"Você achou que tinha um assaltante ou assassino te seguindo, não achou?"
Ok, talvez a paranóia dela tivesse aumentado só um pouquinho.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

The Thrill Is Gonne



Algumas lembranças, mesmo as boas, parecem tão distantes, tão distantes que perdem a devida importância.
Recentemente precisei encontrar espaço no meu armário, para alguns livros novos. Todos nós temos um lado do armário abarrotado de coisas que quase não precisamos. Ou que guardamos por lá, simplesmente porque não queremos jogar fora, mas, também, não queremos ter contato.
Ao abrir a porta do lado entulhado, um álbum de fotografias caiu nos meus pés. Interrompi minha pequena missão,  para ver os retratos. Fotografias sempre exerceram em mim um grande fascínio. Ao olhar uma foto sou capaz de sentir cheiros, sons, gosto, calor...é mais do que reviver o passado, sou de fato teleportado, mesmo que por breves segundos, para um momento especifico da minha vida.
Folheio as páginas do álbum. Nada. Nem o menor dos estímulos. Continuo no meu quarto, sentado em minha cama...queria lembrar daqueles dias, passo o dedo sobre os retratos, inspiro, fecho os olhos num esforço desesperado e nada acontece.  Aqueles momentos ficaram para trás, apáticos. Como se houvesse entre nós um abismo de milhares de anos.
 Algumas lembranças ficam tão distantes, que nem mesmo as imagens mais poderosas do mundo podem resgatá-las.

domingo, 10 de maio de 2015

Pontual


- Do jeito que é lerdo, vai se atrasar kkkkkkkkk
Era essa a mensagem que Clarice me mandou ontem de noite, e que eu só fui ver agora, ás Dez e Meia, não lembro ter marcado nada com ela, ignoro um número considerável de pessoas na minha casa, tem vizinhos e parentes por todo o lado, não sei de onde eles surgiram, saio de casa sem falar com ninguém, sem escovar os dentes, com roupas amarrotadas e faltando o relógio, chegando no portão avisto o ônibus, corro em direção ao ponto como se não houvesse amanhã, ele está ali parado, esperando por mim, e a poucos metros de alcança-lo ele dá a partida, jogando toda a poeira do mundo no meu belíssimo visual.
Não a tempo para voltar em casa e me arrumar direito, pela lógica o próximo ônibus não vai demorar nem cinco minutos. Vinte minutos depois e ainda estou parado no ponto, aí lembro que é sábado, e os horários são diferentes, o próximo vai passar daqui a dez minutos. Mais vinte minutos depois e ainda estou no mesmo ponto, o lugar encheu consideravelmente, sem filas, sem leis, quando ele chegar é cada um por si, não existe o “eu cheguei primeiro”.
Uma hora nesse ponto, é o momento de mandar a mensagem e dizer que vou me atrasar, mas a vida não quer facilitar hoje, meu celular resolveu não ter sinal desde ontem a noite. Uma hora e dez minutos depois, e eis que surge o ônibus, lá no meio da poeira, aparentemente vazio, levanto os braços para comemorar, o que me faz lembrar que não passei desodorante, o sol é intenso e forte, o Rio de Janeiro não perdoa nem no outono. Quando ele estaciona a luta começa, um amontoado de gente na porta, e eu fui ficando para trás, e ficando, e ficando, até que finalmente consigo subir, depois de todo mundo.
Não preciso dizer que fui em pé, também acho desnecessário dizer que o ônibus só foi enchendo cada vez mais a cada ponto que ele parou, mas aparentemente tudo daria certo a partir desse momento, finalmente estava a caminho, só não contava é claro com o caminhão quebrado na estrada, blitz da polícia e os cinquenta mil semáforos a minha frente, e tirando o fato de que eu fiquei parado em pé pensando no nada e passei do ponto.
Salto dez pontos depois e venho correndo em direção a casa de Clarice, a sensação é de vitória, de chegar a tempo no compromisso, mesmo que aparentemente derrotado, digo adeus a fama de lerdo, atrasado e furão. Chego ao portão da casa dela e toco a campainha, então meu celular recupera o sinal e começa a tocar, é Clarice.
- Onde você está ???
- Acabei de chegar, abre aí.
- Chegar?
A mãe dela abre o portão, e com um ar de surpresa olha pra mim.
- O que você tá fazendo aqui garoto? Não é aniversário do seu pai hoje?
Aí a ficha cai, e toda aquela gente lá em casa faz sentido.
- Esquece, acho que vou me atrasar um pouquinho.
E foi assim que eu me atrasei para festa na minha própria casa.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Você está vivendo?


Você está vivendo?

"Ora, mas é claro! Não estou respirando?"
Ah, não foi isso que quis dizer, perdão pela confusão.
Está aproveitando o pouco tempo que temos aqui? Está observando a beleza, adquirindo conhecimento, alcançando sonhos? Já presenciou um pôr-do-sol? Já encarou um arco-íris? Já terminou um livro?
A vida passa tão rápido, afinal.
Se compararmos ao universo, o que são 100 anos?
Na verdade, não precisa ser ao universo. Compare à própria Terra. Bilhões e bilhões de anos sendo reconstruída, sendo moldada, sendo modificada. Bilhões de anos em que nem sonhávamos nossas existência.
E nós, às vezes, não damos valor aos poucos 80 e tantos anos que são dados em nossas mãos.
Não estou dizendo para ser imprudente e jogar tudo pro alto, não, isso seria burrice. Afinal, você precisa de dinheiro para comer, e comer é um dos maiores prazeres da vida.
Porém, não fique preso ao trabalho, às adversidades, aos julgamentos da sociedade. Ame, sinta, experimente, ria, chore, lute. E não deixe que outros parem sua caminhada. O seu único inimigo, o único que pode te deter, é você mesmo. E tenho certeza de que você é páreo pra ele.
Viva, não só sobreviva.
Viva, não seja apenas um expectador.
Viva, não em prol do medo e da hesitação.
Viva, não estupidamente, mas o suficientemente estúpido para aprender.
Erre, acerte, porque ninguém é perfeito.
Pois, se há algo que podemos ter certeza nesse plano, é da morte. E não sabemos quando ela vem.
Então, faça bom grado do período de tempo entre o nascimento e sua última golfada de ar.
Viva.