domingo, 10 de maio de 2015

Pontual


- Do jeito que é lerdo, vai se atrasar kkkkkkkkk
Era essa a mensagem que Clarice me mandou ontem de noite, e que eu só fui ver agora, ás Dez e Meia, não lembro ter marcado nada com ela, ignoro um número considerável de pessoas na minha casa, tem vizinhos e parentes por todo o lado, não sei de onde eles surgiram, saio de casa sem falar com ninguém, sem escovar os dentes, com roupas amarrotadas e faltando o relógio, chegando no portão avisto o ônibus, corro em direção ao ponto como se não houvesse amanhã, ele está ali parado, esperando por mim, e a poucos metros de alcança-lo ele dá a partida, jogando toda a poeira do mundo no meu belíssimo visual.
Não a tempo para voltar em casa e me arrumar direito, pela lógica o próximo ônibus não vai demorar nem cinco minutos. Vinte minutos depois e ainda estou parado no ponto, aí lembro que é sábado, e os horários são diferentes, o próximo vai passar daqui a dez minutos. Mais vinte minutos depois e ainda estou no mesmo ponto, o lugar encheu consideravelmente, sem filas, sem leis, quando ele chegar é cada um por si, não existe o “eu cheguei primeiro”.
Uma hora nesse ponto, é o momento de mandar a mensagem e dizer que vou me atrasar, mas a vida não quer facilitar hoje, meu celular resolveu não ter sinal desde ontem a noite. Uma hora e dez minutos depois, e eis que surge o ônibus, lá no meio da poeira, aparentemente vazio, levanto os braços para comemorar, o que me faz lembrar que não passei desodorante, o sol é intenso e forte, o Rio de Janeiro não perdoa nem no outono. Quando ele estaciona a luta começa, um amontoado de gente na porta, e eu fui ficando para trás, e ficando, e ficando, até que finalmente consigo subir, depois de todo mundo.
Não preciso dizer que fui em pé, também acho desnecessário dizer que o ônibus só foi enchendo cada vez mais a cada ponto que ele parou, mas aparentemente tudo daria certo a partir desse momento, finalmente estava a caminho, só não contava é claro com o caminhão quebrado na estrada, blitz da polícia e os cinquenta mil semáforos a minha frente, e tirando o fato de que eu fiquei parado em pé pensando no nada e passei do ponto.
Salto dez pontos depois e venho correndo em direção a casa de Clarice, a sensação é de vitória, de chegar a tempo no compromisso, mesmo que aparentemente derrotado, digo adeus a fama de lerdo, atrasado e furão. Chego ao portão da casa dela e toco a campainha, então meu celular recupera o sinal e começa a tocar, é Clarice.
- Onde você está ???
- Acabei de chegar, abre aí.
- Chegar?
A mãe dela abre o portão, e com um ar de surpresa olha pra mim.
- O que você tá fazendo aqui garoto? Não é aniversário do seu pai hoje?
Aí a ficha cai, e toda aquela gente lá em casa faz sentido.
- Esquece, acho que vou me atrasar um pouquinho.
E foi assim que eu me atrasei para festa na minha própria casa.

Um comentário: