domingo, 15 de janeiro de 2017

Medo


“- Qual o seu maior medo?”

Marrie se deparou com essa pergunta durante uma conversa com seus amigos. Ela não sabia o que responder, então decidiu pegar outra cerveja.

- Talvez o álcool me ajude a responder essa.

Enquanto ela caminhava para o bar, uma voz surgiu sussurrante em seus ouvidos.

-Sim... Ele vai te ajudar.

A voz era áspera e desconfortável, do tipo bastante desagradável. Marrie olhou a sua volta, mas não conseguiu localizar a origem. Aquelas palavras ficaram em sua cabeça durante boa parte da noite, na hora de ir embora elas não passavam de uma vaga lembrança. Marrie recusou a carona e decidiu levar o carro sozinha, segundo ela, foram apenas 5 latinhas, ela estava perfeitamente bem.

“Trânsito é uma coisa muito séria, não pode haver distrações, eu nunca gostei de rádios em carros, eles só atrapalham” A mãe de Marrie repetia essa frase ao menos umas três vezes durante as reuniões de família. E ela estava absolutamente certa. Pelo menos dessa vez. Ao ligar o rádio com o carro ainda no estacionamento, ele começou a chiar bastante, até que a mesma voz do bar surgiu.

- Marrie... Qual o seu maior medo?

Nervosa, ela desligou o rádio na mesma hora. Não perdeu tempo e saiu logo daquele lugar de uma maneira pouco prudente. Entretanto, a direção álcoolizada de Marrie não durou muito tempo. Foi uma fração de segundos, a distração mínima, e Marrie não prestou atenção no carro desgovernado que vinha em sua direção. Ao tentar desviar ela bateu de frente com um caminhão que vinha na pista ao lado. O carro de Marrie capotou cinco vezes.  Ela só foi acordar no hospital 3 dias depois.

E mesmo depois de quase um mês internada, a voz do rádio não saia de sua cabeça, muito menos a voz no bar.

Durante sua última noite no hospital, Marrie foi acordada por uma voz bastante familiar.

- Acorde... Precisamos conversar.

Não existe sensação na terra que descreva o que ela sentiu naquele momento, o pânico a dominava por completo, ela escondeu a cabeça dentro do cobertor e ficou rezando para a “coisa” ir embora de uma vez. Não deu certo, e ele voltou a falar.

- Fizeram uma pergunta para você naquela noite e eu fiquei curioso pela resposta.

-Qu a a a, qual perr per gunta...??

A voz de Marrie era baixa e quase inaudível, mas a criatura a entendia muito bem.

- Qual o seu maior medo?

Nenhum som.

-Mo mo mo mo...rrerr

A criatura também ficou em silêncio por um tempo.

- E foi preciso quase morrer para descobrir?  Estávamos certos, o álcool ajudou.


Essa é uma pergunta realmente injusta. O medo pode se manifestar das mais diferentes formas durante a vida. Você pode até dizer que não tem medo de morrer, mas ao se deparar com uma situação de perigo, o medo de perder a vida e deixar tudo para trás vem à tona. Naquele momento ele se torna o maior medo da sua vida. Mesmo que você tenha outro. 

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