sexta-feira, 3 de abril de 2015

SEM TIR-TE E NEM GUAR-TE

         Foi como se meus pulmões tivessem se enchido de ar pela primeira vez. Pense de novo. Não foi mágico, foi doloroso. Para um recém nascido, a primeira respiração é uma experiência traumática. O pulmão recebe um choque, a carga de adrenalina no corpo é intensa, os músculos cardíacos entram em espamo e o bebê respira pela primeira vez.
A liberdade de um pós-relacionamento é dolorida. Começa com a estranheza da falta da companhia,  há um excesso de tempo que incomoda, uma crescente ociosidade, ausência do toque de telefone. Você começa desesperadamente a buscar pelos seus amigos e pelo o que fazer. Você se agarra a filmes, assiste três ou quatro no mesmo dia, numa tentativa de passar o tempo e amenizar a solidão, mas só se sente mais sozinho.
Um dia, inesperadamente, tudo está diferente. Seu tempo ocioso se tornou produtivo. Você se envolve em projetos paralelos ao que faz para sobreviver, assiste filmes, em menor quantidade,  sem a sensação do vazio, encontra novos amigos e os junta aos antigos. O sol não é mais um problema, é uma solução para um dia na praia, dias nublados não são depressivos, mas perfeitos para leitura. Há vida em você.
Num desses dias em que existe vida e o sol não é um problema, ela passa por você, sem nenhum sobreaviso. Ela. E o perfume dela toma conta da calçada, impregna todo seu ser, e tudo o que você pode fazer, por um breve momento, é orbitar em volta dela. Quando isso ocorre, você sabe: você está perdido.
Sentir o perfume dela é como respirar pela primeira vez.

Um comentário:

  1. Li e amei o texto. Me faz questionar bastante sobre a dinâmica das coisas. E claro, nem preciso falar que me identifiquei né.
    Enfim, começando... eu acho que nós somos extremamente complexos emocionalmente. A maioria das pessoas quer muito alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, não a quer. É mega difícil encontrar alguém que esteja em sintonia com o que buscamos. Ainda mais dessa pessoa calhar de ser a "alma gêmea" que tanto ansiamos. E por isso, a gente sofre.

    Nós idealizamos tanto uma persona que tenha exatamente as características que buscamos que, em qualquer momento que elas fujam desse ideal, nós acabamos frustrados.

    E nesses momentos de solidão, nós ainda esperamos mais: uma certa reação de nossos amigos e familiares. E se elas não são exatamente dessa maneira, nos afundamos ainda mais na solução e acabamos buscando consolos em filmes porque eles são representações de cenários que para nós, são muito reais e nos fazem acreditar que não somos malucos por mantermos nossos padrões de busca lá no alto.

    É claro que isso tudo somado a busca excessiva para achar ~a pessoa~ só tende ao fracasso. E só agrava o quadro da nossa solidão e nos deixa sem ânimo para enfrentar o mundo, quando isso é tudo que precisamos para nos reerguer.

    É um ciclo vicioso. E é difícil não cair nessa sofrência. Ê lelê.


    PS: eu ia misturar tudo isso com o texto dos amores líquidos, mas vou resistir. Um dia, quem sabe?

    Ok, divaguei demais. :D

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