domingo, 19 de abril de 2015

Quarto 60B

Você acredita em fantasmas?
O dono do hotel me fez essa pergunta na recepção, logo após me dar as chaves do quarto, eu olhei para ele com uma cara de surpreso, simplesmente não sabia o que responder.  Isso é, até agora.
Eu não sei de onde ela surgiu. Ao sair do banho, me deparei com uma mulher de vestido branco e longos cabelos negros sentada na lateral da minha cama. Caminhei lentamente em direção a ela, até que eu ficasse de frente. Ela estava imóvel, seu rosto estava desfigurado, cheio de feridas, seus olhos negros estavam fixos no nada, como se pudessem enxergar através de mim, mantive certa distancia dela.
- Oi? Quem é você? Como entrou aqui?
- Isso não é importante Jhonny, já se esqueceu de mim?
A voz dela era sussurrante e me causou calafrios, afinal, quem diabos é essa mulher? Como ela entrou no meu quarto?
- Vou chamar o gerente.
Foi então que eu tive a segunda surpresa da noite, a porta simplesmente não abria, a chave não girava e a maçaneta estava fixa.
- Não vai funcionar Jhonny.
A voz continuava sussurrante, quando olhei para trás assustado, ela não estava mais lá. Foi então que bati forte na porta e gritei se havia alguém no corredor.
- Ninguém vai ter escutar Jhonny.
Ela surgiu do meu lado, e olhou tão profundamente dentro dos meus olhos, que foi como estar lendo minha alma, minha espinha congelou, o terror e o pânico tomou conta de todo o meu ser, foi o mais terrível dos calafrios que eu já senti.
- Por que a matou, Jhonny?
Então eu a reconheci.
- Ou melhor, por que me matou Jhonny?
- Helena...
- Qual sentido em tirar minha vida Jhonny?
Sua voz continuava sussurrante, enquanto a minha se recusava a sair, era como se um bolo estivesse preso na minha garganta, uma vontade insana de gritar e não poder, era como estar preso em um pesadelo, implorando para acordar a qualquer momento.
 - Minha morte te fez feliz Jhonny?
Eu corri em direção a janela desesperado, mas ela também estava trancada, e ao olhar para trás, Helena já havia desaparecido de novo.
- Jhonny...Jhonny...Jhonny... Do que tem medo Jhonny?
- DE NADA!!!!
- É feio mentir Jhonny.
Eu já não tinha mais pernas e meu coração bombeava medo nas minhas veias, era o pior sentimento que eu já tive em toda minha vida.
- Até quando vai fazer isso comigo???
- Para sempre, Jhonny. Você vai conviver com esse sentimento para toda a eternidade.
Então cai de joelhos e comecei a chorar.
- Me perdoe... eu imploro...
- Jhonny... não quero sua humilhação, quero seu sofrimento.
Ela surge na minha frente de novo, eu me levanto o mais rápido que consigo e vou em direção a minha mala, puxo a minha 38 e disparo cinco vezes nela. O vestido outrora branco, se transforma em vermelho sangue, mas Helena não cai, ela continua imóvel, e com sorriso de satisfação no rosto.
- O mesmo Jhonny, a mesma 38, os mesmos cinco disparos. Diga-me Jhonny, o que vai fazer com a última bala dessa vez? Vai tomar a decisão correta?
Eu olho para a arma e olho para Helena, que vem caminhando lentamente em minha direção, dou uma olhada para janela e vejo dois policiais do lado de fora parados, impossível de não terem escutado os disparos. Volto o olhar para frente e Helena já está face a face comigo, ela firma a minha mão tremula e guia a arma até minha cabeça, se aproxima um pouco mais e sussurra no meu ouvido.
- Puxe.
Então a vida de Jhonny chega ao fim com um disparo. Helena se abaixa, da um beijo em Jhonny e sussurra novamente em seu ouvido.
Jhonny...Jhonny...achou que se livraria de mim com tanta facilidade? Você não vai morrer, vai viver para sempre comigo nesse quarto, ninguém vai te escutar gritar, ninguém virá te socorrer, seremos apenas eu e você, felizes para sempre, agora acorde dorminhoco, eu quero brincar.

Os olhos de Jhonny se abrem, e é possível ver o terror passando por eles...

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