segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A complexidade de uma morte tranquila

E cá estou eu, viajando mais uma vez na minha varanda, nessa noite quente de verão, esperando que algum vento milagroso encontre essas belas árvores em meu quintal e me presenteie com uma maravilhosa brisa, será que é pedir muito? Nunca sei qual seria o limite, o que é pedir demais? uma morte tranquila talvez, mas que diabos seria uma morte tranquila? Procuro em meus bolsos o cigarro que meu vizinho me dera hoje a tarde, se minha filha souber disso, ela vai me matar antes do próprio cigarro, mas eu prefiro uma morte parcelada em suaves prestações de tabaco, que ouvir os sermões sem parcelamento algum, isso me mata, a pior coisa que existe são pagamentos a vista.
Afinal, é tão difícil ter uma morte tranquila? Eu poderia dormir e não acordar mais, só que eu fico na dúvida, se eu morrer dormindo, eu ficaria preso nesse sonho por toda a eternidade? E se o sonho for ruim? Em contra partida, pode ser que o sonho seja bom, são 50% de chances, mas como a sorte não costuma ser minha fiel amiga, é capaz dela me deixar na merda até na minha morte, o melhor mesmo é cair de um avião, imagine só, toda essa emoção, não é uma morte tranquila eu sei, mas pensando bem, acho que a adrenalina seja o melhor sentimento a se sentir antes de morrer, mas então encontro outro problema, eu poderia enfartar com a queda, o que deixaria muito frustrado,  seria normal e sem graça, não valeria a pena derrubar um avião se não puder curtir a minha morte, seria melhor eu me jogar de uma ponte ou na frente de um caminhão, porém seria algo bem deprimente, uma pessoa positiva como eu sou, que sempre pensa coisas boas, não iria combinar com um suicídio, fora que eu teria que escrever uma carta de despedida, esquece, muito trabalhoso e emotivo demais. Então do nada, enquanto eu apreciava meu delicioso cigarro e pensava na vida, meu celular vibrou, o que eu achei bem estranho, quem manda mensagem para um homem de 60 anos quase meia noite? A mensagem me causou calafrios, era a pior coisa que eu poderia ler naquela noite, “apague esse cigarro e vamos conversar pai” sim, esqueci que o quarto dela ficava em cima da varanda, enrolei tanto com minhas suaves prestações de tabaco que agora terei que ouvir sermões a vista, essa síndrome de Casas Bahia não me deixa.

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